segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

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A escravatura


Por vezes interrogo-me, se será hipocrisia, mexer nas feridas do passado, naquilo, que ninguém quer falar, que atormenta os pensamentos. Um tabu, que me faz pensar, há já algum tempo a esta parte, e que voltou com alguma intensidade, quando a terra foi mexida, e apareceram mais vestigios do tráfico humano, nas escavações na Praça D`armas, onde numa antiga lixeira, datada dos séculos XV a XVII, foram encontrados 140 esqueletos de escravos africanos, abrindo todo um novo campo de conhecimento, sobre os Descobrimentos Portugueses. Todos estes acontecimentos, fez aumentar, este sentimento de alguma forma de culpa e responsabilidade de nós todos portugueses, perante a escravatura.

Nada melhor, do que nesta data, para falar no assunto. Na evocação dos 550 Anos da Morte do Infante Dom Henrique (que se assinalam este ano) e, simultaneamente, da descoberta de Cabo Verde, o que faz com que um acordo de geminação, irá ser presente à Assembleia Municipal, para aprovação, entre Lagos, e a Ribeira Grande de Santiago que foi a primeira cidade construída pelos portugueses em África. Seria oportuno também, recordar, estes 6500 milhoes de seres humanos, e levar à Assembleia Municipal, para aprovação, um estudo para um projecto, para a implantação de um monumento, dedicado a todos estes seres humanos, que foram vítimas da escravatura.

Sim, um monumento, bem melhor que o exemplo americano, onde o presidente norte-americano Barack Obama classificou de "histórica" a resolução adoptada pelo Senado, que apresentou formalmente desculpas, em nome do povo americano, pela "escravidão e a segregação racial" para com os negros americanos. A resolução, deixa, todavia, claro que não pode servir de base "a uma queixa contra os Estados Unidos. Neste caso parece-me hipócrita, porque esta resolução, não serve absolutamente para nada. Porque de resto, continua praticamente tudo na mesma.

O que proponho, é um monumento, desculpas à parte, o Papa já pediu desculpas em nome dos católicos. Quem devia pedir desculpa em nome de Portugal, era o Infante D.Henrique, que em 1444 enviou uma caravela à foz dos rios Senegal e Gâmbia e regressou a Lagos com 235 escravos a bordo. Foi o início de Portugal, no comércio da escravatura. Portugal, entre os séculos XVI e XIX, foi responsável por uma das maiores, se não a maior, transferência forçada de seres humanos da História da Humanidade entre África e o Brasil.6.500.000 (seis milhões e quinhentos mil seres humanos traficados):4.000.000 de sobreviventes + 1.500.000 mortos na marcha até ao litoral para embarque+ 500.000 mortos nas fortalezas onde esperavam embarque+ 500.000 mortos no Atlântico[Números aproximados]

Os portugueses orgulham-se em apregoar que Portugal foi o primeiro país do mundo a abolir a escravatura em 1761, a verdade é bem outra. Orgulho esse, que deve sempre existir, no aspecto científico dos descobrimentos, o espírito aventureiro, corajoso e destemido do povo português, fez com que as viagens fossem cada vez mais longe, avançando em mares nunca dantes navegados, como cantou Camões. O conhecimento de novas terras e mares, de novas gentes e culturas e a valorização da experiência, foram a grande dádiva dos Portugueses à Humanidade.
A cidade Lagos foi pioneira nos Descobrimentos, pelo longo caminho das descobertas, foram cometidos muitos erros, reconhecer esses erros não é humildade, talvez seja ambição, um orgulho enorme para Lagos, e para os lacobrigenses, a coragem para enfrentar este tabu, que atormenta os portugueses, e que Portugal, a todo o custo, tenta distanciar-se, como se nada tivesse a ver com o assunto.

2 comentários:

Valquíria Calado disse...

Verdadeiramente somos de alguma forma responsaveis por dá um fim digno a essa historia;nós brasileiros ainda vivemos com lutas contra preconceitos raciais,vem de longe,de uma epoca de senhores feudais,que se achavam donos de vidas e de suas sortes,muita injustiça fora feita neste país. Somos uma geração conciente de suas responsabilidades,escreveremos uma nova e digna historia pra nossa terra.
obrigada pelo artigo e por sua sencibilidade,abraços.

Canalha de Lagos disse...

O fim, minha amiga Valvesta, que 50 linhas não chegam, é muito pouco para abordar tão polêmico tema, a escravidão ainda é latente em nossa sociedade, talvez de uma forma diferente. Hoje somos todos vitimas do capitalismo, que nos torna, todos, escravos do mercado financeiro e do seu consumismo. Quando se fala de escravidão, nos tempos antigos, logo nos vem à cabeça o negro, o que não é verdade, nós portugueses também fomos vitimas da escravidão, durante a ocupação dos mouros,e antes pelos romanos.