Video: O general sem medo, Humberto Delgado
Num daqueles dias chuvosos, alguém abrigado da chuva, debaixo dum toldo de uma loja, apercebe-se do Jaiminho Despachadinho, no seu habitual passo lento e relaxado (a caminho da loja), e grita:- Corra homem, senhão chega à loja todo molhado! O Jaiminho olha e com aquele sorriso de quem sabe as respostas para tudo, responde: Correr! para quê, se posso chegar molhado, mas nunca cansado.
Nas coisas pequenas, mais que nas grandes, muitas vezes reconhecemos o valor dos homens, e
são estas pequenas coisas simples da vida, que tornou este homem numa pessoa tão especial e extraordinária, para todos aqueles, que tiveram o previlégio de o conhecer. Por essa razão, hoje, o recordo aqui, com saudades.
Deixo também o testemunho sobre este homem (e outros), de alguém, que conheceu e admirou este homem de perto, o José Borba Martins.
« OUTRAS MEMÓRIAS E O GIGANTESCO DR. TELLO
E que dizer do insupeitadamente cultíssimo e poliglota Mestre Despachadinho, em cuja loja funcionou a sede local da campanha do General Humberto Delgado?…Genial aquela sua resposta a um tipo do Norte que queria comprar chumbadas e lhe perguntou se tinha “tomates de chumbo” (com ‘c’) ao que o Mestre, com aquele seu andar característico e nada apressado lhe respondeu, mirando-o de soslaio por cima do ombro e levando a mão à anca: “Não, não, isto é só uma dôrzinha aqui nas costas”…
Muito viva é também a memória do Coronel Rocha de Abreu, que integrou a S. P. Teosofia, outro superior espírito que empreendeu entre nós a notável “Casa de S. Gonçalo”, assim como é essencial relembrar – hoje mais que nunca – essas tranquilas lições cívicas de vida do enorme Dr. António Guerreiro Tello, com consultório um pouco mais abaixo, inestimável para tantos lacobrigenses. Conta quem assistiu, que proferiu um discurso inolvidável na Praça da Música, nos anos 50, em que explicou à Cidade porque decidiu não aceitar o convite que o regime do Estado Novo lhe fazia para ir para Lisboa como deputado. No final, tardaram os aplausos unânimes porque todos os que o ouviram, ou seja a totalidade da praça (a cidade de então em peso…), ficaram literalmente em lágrimas, com alguns em pranto convulsivo…
Aqui fica uma única sugestão para quem a possa concretizar: já tarda homenagear, mais do que em nome de rua, com uma estátua ainda maior que a do tamanho real desse gigante de humanidade e altruísmo que escolheu viver na nossa Grande Cidade. O nosso Tolentino de Lagos certamente aceitará materializar esse imperativo de tão vivo traço da consciência colectiva com desconto especial.
Por mim, antevejo que a estátua seja colocada em pé e sem pedestal nessa mesma praça de tão indescritível discurso. Em pé em homenagem à sua verticalidade e ao lado dos seus iguais, como tão sabiamente soube estar e ser sempre tão essencialmente útil.»
6 comentários:
A precisão no peso dos pregos, era espectacular, a lentidão com que se arrastava na tarefa da loja, fazia aqueles mesmo com alguma paciência perder a calma, sempre vigiado pela mulher, que por detrás da cortina, onde passava as tardes na cusculevise com as amigas não teimava em mostrar a cara, em forma de aviso à navegação, depois tinha sempre lá algum amigo de escola, de visita, como se, de talk show se trata-se. A loja do Despachadinho era ùnica sem dúvida. Um bom Homem.
Nunca tinha visto estas imagens, logo me vê à cabeça "O Homem do tanque na praça Tiananmen, em Pequim", o Humberto Delgado não enfrentou tancos, mas sim os cavalos da tropa, e a PIDE. Quando ao Jaimo, devo dizer que nunca achei piada, as secas que me susceitava sempre que precisava de lá ir comprar alguma coisa. Sem dúvida alguma, inteligente pessoa.
Lembrar estas pessoas que sem medo enfretaram um regime fascista, para não cair-mos no mesmo erro do passado, hoje, com este Governo nervoso de Sócrates a caminhar para um sistema do passado, de controlo de liberdade de expressão, a querer tomar controlo dos Média portugueses.
Subscrevo, claro.
Sempre houve pessoas que arriscaram a carreira, os bens, e até a vida, em nome de uma sociedade livre e justa. O Dr. Tello, pessoa que não conheci, mas de que ouvi falar, teve esse condão, essa grandeza de vir dar a cara quando tal era preciso e difícil, partilhando a esperança a com o seu povo, que na praça pública – emulando a “Ágora” Ateniense onde Péricles e Demóstenes onde a democracia deu os primeiros passos – enfrentando todos os perigos para contrariar a pobreza gerada por um desenvolvimento atávico e restaurar a liberdade democrática.
Porém, não menos importante, era generosidade do amor fraterno e da compaixão pelo próximo, que se manifestava no dia-a-dia e em todas as horas difíceis, em que a todos servia sem ser servido – cumprindo o juramento de Hipócrates - ao ponto muitas vezes nada receber pelos seus serviços de Médico, e de ainda, tirar mais alguma coisa do seu bolso, fosse para aviar os medicamentos, fosse porque o pão faltava. Tudo contrário, de tantos, que nada tendo feito, e estando sempre disponíveis para servir sempre a qualquer senhor, se reclamam de vítimas dos 48 anos de Estado Novo e da ditadura de Salazar-Caetano e, hoje aí estão, para, serem servidos, usando de outros meios e ardis para tentar oprimir e calar.
Mais do que uma estátua, faça-se também reavivar a sua memória, e de tantos mais que pisaram os mesmos caminhos, para que as actuais e futuras gerações saibam que, em condições tenebrosamente difíceis, houve quem teve coragem de agir, de falar e de dizer não, arriscando quase tudo, para fazer as coisas mudarem e restaurar um Estado Democrático e mais justo. Fazendo-se ver que não existem motivos para desistir, as de dificuldades deste mundo, não são o fim da história, antes nos interpelam a ser mais unidos e participantes nas nossas comunidades, pensando e agindo com a mente ordenada e o coração cheio de esperança.
Grande, grande contributo, para a história dos lacobrigenses e de noassa cidade.:))
Bom fim de semana,para os canalhas.
Enviar um comentário