Espero que gostem, desta animação 3D para o tema "redondo vocábulo" de José Afonso.Interpretação livre sobre a angústia de uma gestação ou maternidade em tempos de guerra no ultramar.
Cometemos o erro da solidariedade apressada, para com os “índios”, assim baptizados não se sabe muito bem por quem! criados pela imaginação miserável dos tempos, estes índios que nunca foram índios, mas sim, pessoas como muitas outras, que hoje vindas de mais longe, por aí vagueiam, sem rumo, sem tecto pelas ruas da amargura, de nossa cidade.
Toda essa solidariedade, não nos deu, mais do que um grande homem, um professor, conhecedor da realidade social de Lagos, e acima de tudo, um grande artista, que a "Luar" apadrinou. Mas não venhamos para aqui falar de politicologia, não é a idea deste blog, que fique bem claro, preferências à parte, este senhor merece simplesmente, um comentário à sua grandeza artística, e por ter imortalizado a Meia Praia, com a canção: "Indios da Meia Praia", o Grande Zeca Afonso.
Quanto à Meia Praia em si, o que me surpreeende é que passados mais de 30 anos, continua-se a cometer os mesmos erros, que no passado, só que em proporções asustadoras, o que pôe em perigo toda esta paisagem natural.
A Meia Praia vai ter sete hotéis, vários hotéis de quatro e cinco estrelas vão povoar toda esta zona. Trinta milhões de euros é quanto custou o Hotel Vila Galé de quatro estrelas, o primeiro de sete hotéis a ficar concluído na Meia-Praia. A unidade hoteleira só conseguiu avançar após a aprovação, em Julho de 2007, do Plano de Urbanização (PU) da Meia Praia, uma medida que veio permitir a construção de hotéis de quatro e cinco estrelas naquele areal. Segundo o presidente da Câmara de Lagos, Júlio Barroso, a decisão representou a conclusão de um "longo processo e o início de uma nova e boa fase" para Lagos, por representar um "ordenamento com objectivos estratégicos definidos para a zona da Meia Praia". A seguir ao Vila Gale, vai-se construir: O Iberotel, de cinco estrelas, do grupo com o mesmo nome: a reconstrução do hotel da Meia Praia, de 4 estrelas, pelo grupo Palmares; o Palmares Onyria, de 5 estrelas, considerado Projecto de Interesse Nacional; o New Paradigm, de 5 estrelas, de um grupo britânico com o mesmo nome; e o Resort Baía Meia-Praia (PIN de 5 estrelas), que terá três hotéis e um aldeamento turístico, do grupo SDTL.
E agora! os Índios, e as Dunas? O Vila Galé Lagos está implantado em forma de U, com o objectivo de optimizar a vista para o Oceano Atlântico, que de momento, tem vista para as casas dos Índios, e estes, não querem sair de lá. O presidente da Cámara de Lagos disse à Lusa: que o bairro está muito degradado e que aquela população, compreende que não é compatível aquele bairro, com hotéis de cinco estrelas.
Esperemos, que toda esta disputa, não deixe para segundo plano a Natureza em si, as dunas da Meia Praia, por sua importância e singularidade, devem ter uma maior atenção por nossa parte, no que se refere ao impacto ambiental. Já deveria ter sido equacionado há muito mais tempo, toda esta revolução urbanística, antes de qualquer decisão ter sido tomada, esta obra é objecto de controvérsia em razão do suposto impacto ambiental que poderá causar graves danos ao património natural. Onde estão os estudos do impacto ambiental, onde se pode consultar? Este património natural e único, devia ser um marco na preservação do património natural nesta região, e resguardado para todos nós.
As Dunas da Meia Praia forma-se pela sedimentação marinha e o vento, são formações de areia únicas na costa portuguesa, com um ecossistema ímpar, numa paisagem singular. A areia e o vento fazem seu trabalho diário, esculpindo uma nova paisagem, a cada dia que passa. Somos privilegiados, este momento da natureza é só nosso. Amanhã outros serão brindados com um novo espetáculo. Mas para isso, é necessário, que haja um amanhã. Para tal, é de exigir um maior cuidado num estudo mais aprofundado ao impacto, a esta ameaça ao natural futuro das Dunas da Meia Praia.
“A Terra levou alguns bilhões de anos para construir as rochas, os minerais, as montanhas e os oceanos. Proteja esta obra-prima!“
8 comentários:
Os 77 Pré-finalistas, para as 7 maravilhas Naturais de
Portugal, não comtemplou a Baía de Lagos, foi uma mau aposta, escolhida por quem
não consegue ver o que temos de melhor na nossa cidade. Só os interresses dos
grandes grupos imobiliários internacionais, conseguem ver essa grande
potencialidade, que é a Ponta da Piedade (na categoria de Grutas e Cavernas).
http://www.7maravilhas.sapo.pt/#/pt/pre-finalistas
Simplesmente espectacular esta combinação em 3D com a musica deste grande Zeca Afonso.
Uma excelente abordagem a este problema, que não ė de agora, apenas os arquitectos, desta vergonha da meia praia, mudaram. Estou-me a lembrar do Veloso no passado, uma grande falta de visão urbanística, foi motivado pelas circunstâncias do momento revolucionário.
Tema extremamente interessante e muito bem exposto. Fica-me a dúvida se poderão haver duas opiniões acerca deste assunto. Não sei se afirme, se questione.
INDIOS DA MEIA PRAIA
Mais uma vez nos presenteia com um excelente post.
Só quem tem a cabeça ordenada e a esperança no coração pode pensar que "Os Índios da Meia Praia Somos Todos Nós". Não haja dúvida, somos mesmo. Assim o determina a condição humana.
A meus ver, os problemas são outros. Os bairros da Meia Praia, ao contrário do referido pelo comentador anónimo, não têm génese revolucionária, nem padecem de falta de visão urbanística.
Os Índios da Meia Praia, resultam de fenómenos migratórios internos, ocorridos desde finais o Sec. XIX, em que as miseráveis condições de vida e a fome, obrigavam as povoações costeiras a procurar sustento noutras paragens.
Em resultado deste fenómeno, são conhecidos os fenómenos dos "Avieiros" - tão bem retratados por Alves Redol - que começou por ser um fenómeno sazonal, em que as populações pescadoras da Praia da Vieira de Leiria, no inverno, deixavam a faina da “arte xavega, migrando com os seus barcos de proa virada para o céu como os dos “Vikings” para as margens do Tejo e do Sado fazendo a pesca do sável, da lampreia, das enguias.
Inicialmente, transportavam os seus barcos e demais haveres em carros de bois da Vieira de Leiria para o Vale do Tejo, e regressavam, da mesma forma, na primavera. Durante o período em que aí permaneciam, famílias inteiras, viviam dentro dos barcos. Depois, com o tempo, acabaram estabelecer relações com os donos das propriedades, fazendo assentamentos, construindo casas e aldeias palafíticas, primeiro de caniço, e depois de madeira, onde, desde há várias gerações, acabaram por se fixar de forma permanente, fazendo, simultaneamente com a pesca, trabalhos nos campos, nas culturas sazonais, como do milho, do melão e do tomate. Desta realidade e desta cultura são, ainda hoje, muito conhecidas as de Escaroupim, de Muge (S. de Magos), da Palhota (Cartaxo). Estas aldeias e a sua cultura, teimam em manter-se vivas para conseguirem a permanência das gerações mais novas e, ao mesmo tempo, captar as receitas proporcionadas pelos turistas, que a elas se deslocam e nelas permanecem atraídos pelas suas especificidades culturais, incluindo as gastronómicas e urbanísticas. Razão porque as respectivas comunidades e autarquias estão a tratar de a elaborar processos de recuperação e as candidatar à classificação de património Nacional
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Os Avieiros, à semelhança dos nossos Índios, eram, e são, conhecidos como “Os Ciganos do Rio”. E as coincidências não se ficam por aqui. Também os nossos Índios usavam os barcos de proa alta da arte xavega, migrando da mesma forma, vindos de Vila Real de Santo António e de Monte Gordo. Primeiro sazonalmente, pescando no mar protegido da Baia de Lagos e mariscando na Ria de Alvor, depois, com o passar do tempo criaram raízes no local e fizeram os seus assentamentos nas dunas da Meia Praia, primeiro em barracas provisórias de caniço e palha, depois fixas, de madeira e chapa. De igual modo, portavam uma cultura fechada, distinta da dos locais, que os viam como marginais, o que o tempo tem esbatido, mas ainda está presente, viva, e enraizada nesses bairros.
Falamos, pois, de uma comunidade, já com raízes profundas na comunidade e memória locais. Os bairros SAAL da Meia Praia, não decorrem de qualquer destemperado fenómeno revolucionário do 25 de Abril – se o fosse, seria igualmente de respeitar e de afirmar -, apenas resultado a grandeza de alma e da generosidade das pessoas naqueles tempos, que se mobilizou e aos poderes públicos de então, para transformar aquelas barracas das aldeias de pescadores, ali radicados, há décadas, em casas de alvenaria e habitações condignas. Nessa altura, o turismo era um fenómeno incipiente, os terrenos junta das dunas eram terrenos de cultura agrícola, ninguém sonhava com grandes construções e golfes.
Do ponto de vista da arquitectura e do urbanismo, comparados com as Ameijeiras, Sras. da Glória, CAFI`s, e tantos outros, os bairros da Meia Praia nada perdem em termos de qualidade e de concepção. Quem quiser ver com olhos-de-ver, facilmente constata que aquelas casas e ruas – ainda que usando uma linguagem moderna própria da época – seguem as linhas e padrões da arquitectura e traçado urbano das aldeias tradicionais algarvias, com as suas chaminés, telhados e açoteias, ruas relativamente estreitas e paredes brancas.
O drama do aspecto degradado dos bairros, resulta do abandono a que foram sendo deixados, pelos diferentes poderes camarários, desde há mais de 30 anos. Não os concluindo, nem às suas infra-estruturas, tolerando alterações descontroladas. Enfim, creio que, com mais ou menos hipocrisia e em nome dos mais altos interesses imobiliários, se quer fazer crer que ali existem ghetos de uma raça incivilizada, para fazer com que os moradores abandonem os bairros de motu próprio, ou se justifique, o seu realojamento para posterior demolição.
Não me parece, cumprindo-se os pressupostos da sua recuperação e requalificação, que haja qualquer incompatibilidade com o turismo. Bem pelo contrário, à imagem do se está a fazer com as aldeias Avieiras, também as gentes da Meia Praia, pessoas como, qualquer de nós, merecem ver respeitadas as suas raízes, a sua cultura, as suas memórias, preservando-as para as gerações futuras, deles e nossas, a sua originalidade e genuinidade.
Ao invés do que dizem os avatares do “progresso” a qualquer preço. Com o enquadramento devido, poderá ser mais um nicho importante o nosso portfólio turístico. Não somos, nem queremos ser, um país do terceiro mundo com resorts para ricos e turistas e, se possível, em locais escondidos e afastados da miséria e pobreza circundantes.
As pessoas e comunidades enraizadas num local, não são coisas que mudem de um sítio para o outro. Se alguma incompatibilidade existe – a meu ver não existe - não é dos bairros, nem dos Índios, será, se a houver, dos empreendimentos, que são um negócio sem raízes, que podem, sem prejuízos humanamente relevantes, ser feitos ali ou noutro lugar.
Aqueles bairros e aquelas gentes fazem parte daquele território, da nossa memória e das nossas vidas; marcam um modo de vida e várias épocas da nossa história. São também, em Lagos, uma memória de Abril, que seria um crime não preservar.
Amigo Jorge Ferreira!
Melhor que o post, é o seu comentário, como é habitual. Mais uma vez me impresionou e me cativou no exercício de interpretação do mesmo, uma abordagem profundamente conhecedora, no que se refere a esta questão delicada e polêmica.
Obrigado
Amigo Aguimas1
A dúvida, é perfeitamente natural, de acordo com as leis do desenvolvimento do pensamento. Até eu fiquei me questionando, depois de ler o post do Jorge Ferreira.
Um abraço
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