segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

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Os Sicilianos em Lagos...

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Pesca do Atum - 2° parte

As coisas apenas valem pela importância que lhes damos.
Essa importância esquecida , com o apagar da luz do desenvolvimento industrial e comercial, perdidos no tempo, esquecidos na história, escondido no pensamento de alguns. Os Sicilianos, a quem eu, em nome de minha cidade, presto homenagem, pelo ensinamento de novas técnicas na pesca do atum e pelo grande contributo no desenvolvimento económico da cidade de Lagos entre os Sec. XIV e XVI

Os Siciliano e os Índios da Meia-Praia tem muito em comum, o mar, o arraial, a armação e a almadrava (um sistema de redes de grandes dimensões para a pesca do atum).A cada almadrava no mar correspondia um arraial em terra.
O arraial era um conjunto de cabanas onde os pescadores residiam com as suas famílias durante a temporada da pesca. Na obra Corografia do Reino do Algarve, escrita por Frei João de S. José em 1577, descreve um arraial de pescadores:
«A pescaria deste peixe não só é proveitosa, [...] mas também de muito gosto e desenfado, porque [...] acode a ela grande soma de pescadores de todo Algarve, com suas mulheres, filhos e outra chusma e fazem suas cabanas por toda a costa onde estão as armações e continuadamente acode a eles toda a gente comarcã a lhe trazer todo o mantimento e refresco necessário e levar peixe, assi deste como d'outro que também ali morre. De maneira que cada armação parece ua feira. Cada armação não traz menos de 70, 80 homens de serviço, com suas barcas e caravelões pera recolher e levar o peixe onde se há-de dizimar e pagar os mais direitos, afora os mercadores do reino e d'outros muitos estrangeiros que tratam nele e o levam a suas terras.»

A pesca do atum no Algarve interessou particularmente aos armadores e pescadores catalães e italianos, sobretudo Sicilianos. Em 1367 armadores Sicilianos estabelecidos em Lagos levam a cabo experiências visando uma maior eficácia das almadravas, e em 1440 D. Duarte arrendou-as a uma sociedade de Sicilianos. Depois, em 1485, catalães e italianos exportavam milhares de arrobas de atum salgado para os seus países a partir do porto de Lagos.

No princípio do Séc. XVI, Lagos caracteriza-se pelo rápido crescimento demográfico, e o mais importante porto de pesca e centro de exportação de pescado da Europa, especilamente do atum para Itália. Portimão e Faro eram caracterizados pela exportação dos frutos secos. Mas também o sal, que torna esta zona, no maior produtor e exportador da Europa. Tão avultado era o comércio que se fazia no porto de Lagos, que incitou a cobiça dos Franceses, os quais infestaram os mares com corsários, que sequestravam as caravelas com carga, a tal ponto que foi pedido ao D. Joao III que interviesse na defesa da costa e do apoio ao tráfico marítimo.
Os Sicilianos se estabeleceram em Lagos, e por aqui ficaram mais de um século, foi-lhes concedidos regalias especiais, pela importância e ensinamentos de novas técnicas, de salgar o peixe, que abriu a possibilidade de exportar em grande escala. Em 1537 os nobres Sicilianos naturais de Messina, junto a alguns genoveses e milaneses, fundam em Lagos com a autorização e direitos concedidos pelo papa a Igreja Nossa Senhora do Porto Salvo, pelo facto da comunidade ser de alguma forma relevante, e com uma identidade bem definida. Elegem um capelão para celebrar missas, aos sábados e domingos de cada semana e para administração de sacramentos. Constituírem uma cofraria com sede na igreja de S. Bráz. Em 1546, finalizam os trabalhos de edificação da igreja. Alguns anos depois começam a surgir alguns desentendimentos e cobiça do local. Até que alguns monjes decidem construir um convento no mesmo lugar, projeto que virá a ser pedido a apreciação aos membros da comfradia de Felipe em 17 de agosto de 1598. O conflito se resolve dois anos depois, com um compromisso em 27 de julho de 1600 frente ao notário Afonso Alves Camacho e a presença do governador do Algarve. Os frades, em troca de poder levantar seu convento, se comprometem a celebrar e manter os mesmos princípios, como funerais e todos os exercícios espirituais que
se celebravam antes, na igreja de Nossa Senhora de Porto Salvo, em benefício exclusivo dos italianos.



Este trabalho de pesquisa, valorizou meu conhecimento da história de Lagos no campo económico e industrial, muito se poderá escrever sobre este assunto, a cidade estava no top do mundo na indústria e exportação do peixe, do sal e frutos secos, existiram mais de 10 fábricas de conserva de sardinha, nos anos cinquenta ainda metade funcionava em pleno. Não só os descobrimentos escreveu Lagos na história do mundo, por isso a necessidade de lembrar que a história de Lagos não se resume somente à epopeia dos descobrimentos, também na economia, como pioneira na indústria dos derivados do mar e dos negócios da exportação, um passado tão rico que não nos podemos dar ao luxo de esquecer, e ao mesmo tempo, lembrar os lacobrigenses e todos aqueles que de longe vieram para contribuir para o desenvolvimento desta cidade.
A pergunta que gostaria de fazer a alguém, seria, o porquê de tanta confusão e falta de informação no monumento, considerado património de interesse histórico, construído pelos Sicilianos? A Igreja Nossa Senhora do Porto Salvo, que no portal da Câmara Municipal de Lagos é conhecido simplesmente, por, Ruínas do antigo Convento da Trindade, e nenhuma referência à história das verdadeiras raízes do monumento. Já o Ministério da Cultura, vai mais longe, aqui o monumento, é conhecido por, Antigo Convento dos Frades Trinos, com uma pequena referência à confraria de Porto Salvo.
Seria conveniente uma maior atenção, aquelas pequenas coisas que deixaram de ter interesse por vontade do tempo, razão pela qual, hoje estão num profundo abandono, físico e literário.



P.S.: Este monumento é muito valioso, não só pela sua história, mas pela localização onde está implantado. Seu terreno arável é muito cobiçado, paredes meias com urbanização da Iberlagos, e com a casa que a Angelina Jolie quer comprar. Não podemos deixar que os privados, o dinheiro, seja mais forte que a vontade dos lacobrigenses, uma consulta pública exige-se.


Senhor Dr. Júlio Barroso, sei que é um adepto da Blogesfera, sei também que o senhor como lacobrigense e amigo, gostaria que aqui no Convento da Trindade fosse feito algo para a cidade e para os lacobrigenses, parar toda esta degradação e abandono do monumento, também sei que a pressão gananciosa de alguns sobre o senhor é constante. Juntos vamos conseguir acabar com este desprezo, e dar razão à nossa história. Um “Museu da Pesca do Atum”, lembrar os Sicilianos, e tudo relacionado, como a indústria do sal, a estiba,etc. No seu terreno com aquela vista espetacular virado para o mar, um jardim do silêncio, onde depois da visita ao museu, possamos sentar, reflexionar , contemplar, e pelo meio, uma merenda com os olhos no mar, ler um livro, sei lá. Esse silêncio aí encontrado, foi a razão pela qual os Frades Trinos construiram aí seu convento, contra a vontade dos sicilianos.
De certeza que o turismo italiano nos irá procurar com mais interesse, porque turismo, não pode ser só praia, é também cultura, esse turismo cultural, que vai faltando em Lagos.




Quanto vale esta mancha verde?



Referências:
70 IANTT, Livro Sexto de Misticos, fols. 164v.-166v. (Vease la transcripcion y traduccion en V. D’ARIENZO-B. DI
SALVIA: Siciliani nell’Algarve..., p. 170-175).
71 ASN, Camera della Sommaria-Partium, 123, fols. 36v-37 (Vease la transcripcion. V. D’ARIENZO-B. DI SALVIA:
Siciliani nell’Algarve..., pp. 185-186).

Para consultar este monumento no ministério da cultura:
http://radix.cultalg.pt/visualizar.html?id=13046
Para consultar este monumento na Câmara Municipal de Lagos:
http://www.cm-lagos.pt/portal_autarquico/lagos/v_pt-PT/menu_turista/concelho/cultura/museus/ruinas+historicas/

8 comentários:

Canalha de Lagos disse...

Alguns amigos, cotactaram-me, pelo facto de não terem recebido resposta a uma mensagem enviada por e-mail. Não sei dizer o que se passa, com o Sapo Mail, não encontrei nenhum problema, tudo parece estar a funcinar corretamente.
Mas em todo o caso vou deixar mais um e-mail da yahoo, em caso, queiram contactar-me e eu não responder num prazo de dois dias, então tentem este:

lacobriga2000@yahoo.com
Ou
100nada@sapo.pt

jorge ferreira disse...

Mais uma vez um post com grande qualidade informativa e interpelador.

Sobre o terreno em questão, já ouvi a alguém com responsabilidades, dizer que aquela área dá um aspecto degradado e que aquele terreno está a necessitar de uns prédios que se harmonizem com os blocos do Iberlagos, melhorando, assim, com as suas fachadas, o “skyline” da zona quando visto do mar.

Estou convencido que, para esta gente, o convento é uma ruína sem interesse, que dá um aspecto degradado à paisagem e que deve é ser terraplanada. Perante este modo generalizado de os políticos e das pessoas comuns pensarem, decorrentes, seja da ganância,seja da grande falta de conhecimento e de alguma cultura, é razão para perguntar: que fazer?

Aprecio, no entanto, as suas informações e proposta para ocupação e utilização do local. Espero, como diz, que o Dr. Júlio Barroso e demais autarcas vejam os Blogues e levem em conta a sua sugestão.

Canalha de Lagos disse...

Amigo António!

Quanto à sua carta, devo dizer que achei bastante interessante. Mas como deves saber, um canalha não se deve preocupar muito com a forma bonita de escrever, mas sim com a messagem que quer passar,a quem se dirige,acima de tudo com o CONTEUDE( como a nossa amiga brasileira Valvesta mencinou, no seu comentário). Como deves saber, Lagos é uma cidade pequena, não própriamente uma cidade rica culturalmente, mas onde a cultura popular abunda, sem lhe darmos a mínima importância. Isto é simplesmente um blog pessoal, onde tento passar minhas idéias, não procuro medalhas ou subsídios, não quero nada para meu proveito, sem fins lucrativos. Quero ajudar minha cidade, com aquilo que me preocupa. Utilize minhas idéias, que costruí com algum conhecimento transmitido por outros, um pouco de pesquisa na Net, tirando um pouca daqui e dali. Tudo isto junto faz o Canalha de Lagos.

Espero que não me leve a mal.
Um abraço amigo

Zé Das Cabras disse...

Uma excelente ideia, gostaria de saber a reação do Júlio Barroso a respeito da tua ideia Penso que os apoios seriam muitos, inclusivo de Itália, propriamente de Sicília, que iriam receber de mãos abertas esta ideia e de alguma forma contribuir, para poderem lembrar esses homens na história de seu país.

Makejeite disse...

Mais um post revelador que estamos perante um BLOG que não pode esmorecer sequer. Um trabalho de grande mérito e extremamente oportuno. Aquele espaço é privado mas passível de intervenção da autarquia, penso eu



Quanto à sua resposta, ( CANALHA É já o espaço que primeiro abro de manhãs) nada mais correcto, mas permita que lhe faça um reparo na análise, eu não me referia à boniteza dos texto, referia-me exclusivamente à forma como os conteúdos interessantes são apresentados. A sua escrita, belíssima diga-se de passagem, obriga a releituras para perceber, ora aqui a exclusividade da minha critica. Portanto pode extrapolar do que lá disse o meu apoio aos conteúdos.

Como é que poderia levar a mal? Não "quero" é que desista porque ao fazê-lo vai criar um vazio.
Abraço

PS: Vou guardar este texto para o ler melhor e no descanso do sofá.

Carlos f. disse...

Onde tu descobres estas coisas?
Foi aqui que os Italianos vieram tirar o curso...

Huggo Beatty disse...

“Todos sabem os apuros financeiros do país e sabem por igual que, para segurar o poder por mais 2 ou 3 anos, V. Exª e o gabinete a que preside não hesitarão em sacrificar o futuro”.

Mouzinho de Albuquerque
(in carta ao Presidente do Conselho de Ministros)

Unknown disse...

Interessante seria manter a tracada original do convento, rehabilita-lo para construir area de restauracao e eventos culturais, biblioteca... No terreno ao lado ha um pequeno edificio de aparthotel bem mixuruca e com mau aspecto. Era comprar isso e mandar abaixo. Ao lado era construir um hotel como deve ser, estilo mistura dos edificios brancos do sul de portugal com elementos de pedra cor de areia e mouriscos, algo arredondado, estilo fortaleza, jardins bem desenvolvidos, lagos, piscina infinity... Uma especie de oasis com vista para o mar. Isso sim iria atrair clientela de turismo com qualidade, que poderia apreciar visitar o espaco cultural do convento. Nada de construir outro mamarracho como o Iberlagos, edificio feito e simplorio, ja a precisar de renovacao... Enfim, sao so ideias de quem sonha... com cada terreno a valer mais de 8 milhoes cada, nao ha assim tanta gente com $visao$ para investir naquilo...