segunda-feira, 20 de julho de 2009

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Fernão de Magalhães


Chega a espantar que o primeiro passo na direção do comércio em escala mundial - um dos aspectos da globalização atual - tenha sido dado há mais de 600 anos.



Os autores dessa proeza foram principalmente os portugueses e, entre seus maiores exploradores, está Fernão de Magalhães.




Nascido em família nobre, Magalhães era inquieto por natureza: queria ver o mundo e explorá-lo. Em 1506 ele viajou para as Índias Ocidentais.



Ele circunavegou o planeta, isto é, deu a volta completa e cruzou o Oceano Pacífico, em sua busca por uma rota para o Oriente.


Ele circunavegou o planeta, isto é, deu a volta completa e cruzou o Oceano Pacífico, em sua busca por uma rota para o Oriente.

Segundo os cálculos de Magalhães e dos irmãos Faleiro, cartógrafos portugueses, as Molucas encontravam-se na metade do mundo que, pelo Tratado de Tordesilhas



Fernão Magalhães começou a insistir para o rei Manuel lhe dar tarefas mais emocionantes e bem pagas, como encontrar o caminho para as Molucas indo pelo Oeste, em vez de fazer o trajeto tradicional, na direção Leste: era mais rápido, dizia. O monarca não comprou essa idéia. Isso fez Magalhães renunciar à nacionalidade portuguesa e oferecer seus serviços a Carlos, rei da Espanha.

Esse soberano, depois conhecido como imperador Carlos V, tinha sonhos de grandeza e decidiu patrocinar a viagem de Magalhães. Encontrar um caminho mais rápido para as Índias faria a Espanha passar à frente de Portugal e de todos os outros países na corrida das navegações.

domingo, 19 de julho de 2009

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Carta do Jorge Ferreira


Meu caro amigo,

Não mereço o destaque que me deu no seu Post. A minha relação com Lagos começou com a arrebatada paixão pela mulher que, passados mais de 20 anos, ainda me tem, e agora, também aos meus filhos. O que me dá o grande acréscimo de responsabilidade pela mulher que amo, pelos filhos que vou criando e pela cidade que escolhi. No mais, não passo do mais simples dos simples cidadãos. A minha afeição por Lagos não foi uma inevitabilidade de nascimento, iniciou-se como quimera no deslumbramento da paixão, para se transformar numa opção de amor parcimoniosamente construído. Relação, às vezes, ainda assim, como em todos os amores, inexplicável; às vezes, ainda assim, como em todos os amores, dolorosa; às vezes, ainda assim, como em todos os amores, uma relação de esperança e de triste melancolia, como a que Jacques Brel tão bem retrata em “Le plat pays qui est le mien”, a propósito de um pais de névoa e de planura, como é a Bélgica.

Depois, estar fora no estrangeiro, como sucede com o meu amigo, é como nas nossas paixões. Com a distância, o que se perde dos prazeres e devaneios de não se poder ver, cheirar, ouvir e tocar no “corpo” desta cidade branca e “Solar”, ganha-se em racionalidade e conhecimento de outras realidades do mundo.
“(…)
E tenho de partir para saber
Quem sou, para saber qual é o nome
Do profundo existir que me consome
Neste país de névoa e de não-ser
(…)” (1)

Porém, há sempre um tempo para o pranto e há sempre um tempo para o riso. As cidades e as pátrias mudam e perecem, mas, enquanto houver memória e poetas, como os do “Crescente” entre o Tigre e o Eufrates, cujas lamas seminais tudo fertilizaram, incluindo os Homens que construíram os Jardins e os Leões da Babilónia, onde Hamurabi fez a Lei, onde Gilgamesh partiu com toda as palavras iniciais, iniciando a viagem épica de toda a humanidade, que nunca mais terminou.

“... põe abaixo tua casa e constrói um barco. Abandona tuas posses e busca tua vida preservar; despreza os bens materiais e busca tua alma salvar. Põe abaixo tua casa, eu te digo, e constrói um barco. Eis as medidas da embarcação que deverás construir: que a boca extrema da nave tenha o mesmo tamanho que seu comprimento, que seu convés seja coberto, tal como a abóbada celeste cobre o abismo; leva então para o barco a semente de todas as criaturas vivas. (...) Eu carreguei o interior da nave com tudo o que eu tinha de ouro e de coisas vivas: minha família, meus parentes, os animais do campo – os domesticados e os selvagens – e todos os artesãos. (…)” (2)

Os Fenícios a continuaram, aqui trazendo barcos cheirando a Cedro, a Byblos e a Sidon (3)

Os Gregos, mesmo inimigos, os imitaram. Nem as lágrimas de Laertes (4) e de Penélope impediram Ulisses de sair dos cais de Ítaca, porque, mais do que a honra da palavra dada, a beleza Helena (5) o continuava a acicatar. Demonstrando, que também os heróis perdem o senso de humanidade e, nem sempre alcançam, que a grandeza do amor, pois não compreendeu que o amor de Helena pelo jovem Paris, era bem mais valioso do que um Reino (6) de guerra e um velho Rei (7). Não entendeu que as vitórias, são passageiras, enquanto o amor, perdura e segue sempre o seu destino (8) Mostrando, também, que desde sempre, houve mulheres e filhos de marinheiros em todos os cais de viagem e de saudade, como o fizeram Penélope e Laertes no cais de Ítaca, esperando pelo júbilo do regresso.

http://www.youtube.com/watch?v=riGnAOUINao

ÍTACA (9)

Quando partires de regresso a Ítaca,
deves orar por uma viagem longa,
plena de aventuras e de experiências.
Ciclopes, Lestrogónios, e mais monstros,
um Poseidon irado - não os temas,
jamais encontrarás tais coisas no caminho,
se o teu pensar for puro, e se um sentir sublime
teu corpo toca e o espírito te habita.
Ciclopes, Lestrogónios, e outros monstros,
Poseidon em fúria- nunca encontrarás,
se não é na tua alma que os transportes,
ou ela os não erguer perante ti.

Deves orar por uma viagem longa.
Que sejam muitas as manhãs de Verão,
quando, com que prazer, com que deleite,
entrares em portos jamais antes vistos!

Em colónias fenícias deverás deter-te
para comprar mercadorias raras:coral e madrepérola,
âmbar e marfim,e perfumes subtis de toda a espécie:
compra desses perfumes o quanto possas.
E vai ver as cidades do Egipto, para aprenderes com os que sabem muito.
Terás sempre Ítaca no teu espírito, que lá chegar é o teu destino último.
Mas não te apresses nunca na viagem.
É melhor que ela dure muitos anos,
que sejas velho já ao ancorar na ilha, rico do que foi teu pelo caminho,
e sem esperar que Ítaca te dê riquezas.
Ítaca deu-te essa viagem esplêndida.
Sem Ítaca, não terias partido.
Mas Ítaca não tem mais nada para dar-te.
Por pobre que a descubras, Ítaca não te traiu.
Sábio como és agora,
senhor de tanta experiência,
terás compreendido o sentido de Ítaca.

http://www.youtube.com/watch?v=P4ZwC-C7mhc

Ainda Tróia ardia, e nem Helena, presa, tinha chegado a Esparta, nem Ulisses tinha ouvido visto as Sereias no regresso a casa, já Eneias (10) - também Heleno - e um punhado de homens, cumprindo o mesmo destino, talvez por aqui tenham passado e derivando pelo mediterrâneo acabaram levados a Cartago, onde ele se ficou se enamorou por Dido (11), e acabaram por aportar as Triremes perto de Lacio, onde ele desceu aos Infernos ao encontro pai, que lhe ajudou a descobrir que, mesmo as viagens à deriva acabam por ter sentido e destino. O dele, conforme o oráculo, haveria de ser ter a cama de Lavínia (12) e de com ela gerar a raça fundadora de Roma.

http://www.users.globalnet.co.uk/~loxias/triremenames.htm

“(…)
Raça de duro tronco, mal nascem os filhos, mergulhamo-los
no rio, e endurecemo-los ao gelo cortante das águas;
os jovens passam a noite na caça, batendo as florestas;
os seus jogos, são domar cavalos, retesar o arco para lançar a seta. (…)” (13)

Também do frio Norte, barcos de quilhas e mastro alevantados, trouxeram homens de barbas e cabelos hirsutos, que aqui procuram a limpidez do Céu e a clareza do Sol a Sul, continuando as sagas de Odin e das mortíferas Valquírias, na procura do “Tosão de Ouro”(14), como Jasão protegido por Medeia.

http://www.youtube.com/watch?v=1aKAH_t0aXA

Todos esses barcos aqui chegaram, todos eles aqui amaram e fizeram filhos, não se perdendo nem sémen nem destino, criaram o génio Luso, que os haveria de honrar levando, em novos barcos, esse destino bem mais além. Por isso, deste cais de Lagos, se continua, desde há séculos, a mesma viagem:

LUSÍADAS

As armas e os barões assinalados
Que da ocidental praia lusitana
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Trapobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana
Entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram
E também as memórias gloriosas
Daqueles reis que foram dilatando
A Fé, o Império, as terras viciosas
De África e Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando:
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Cessem do sábio grego e do troiano
As navegações grandes de fizeram;
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A Fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre lusitano,
A quem Netuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo que a musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta. (…)”

http://www.youtube.com/watch?v=Wk-Z50LzZlg

Daqui partiu o Sangue e a palavra quente de Shengor,

LAGOS I (15)

«Un jour a Lagos ouverte sur la mer comme l’autre Lagos»
Senghor

Em Lagos
Virada para o mar como a outra Lagos
Muitas vezes penso em Leopoldo Sedar Senghor:
A precisa limpidez de Lagos onde a limpeza
É uma arte poética e uma forma de honestidade
Acorda em mim a nostalgia de um projecto
Racional limpo e poético

Os ditadores – é sabido – não olham para os mapas
Suas excursões desmesuradas fundam-se em confusões
O seu ditado vai deixando jovens corpos mortos pelos caminhos
Jovens corpos mortos ao longo das extensões

Na precisa claridade de Lagos é-me mais difícil
Aceitar o confuso o disforme a ocultação

Na nitidez de Lagos onde o visível
Tem o recorte simples e claro de um projecto
O meu amor da geometria e do concreto
Rejeita o balofo oco da degradação

Na luz de Lagos matinal e aberta
Na praça quadrada tão concisa e grega
Na brancura da cal tão veemente e directa
O meu país se invoca e se projecta”.

Daqui foi a geometria pura e branca de :

http://www.youtube.com/watch?v=QFTw0c9ew3k


"BRASILIA (16)

Desenhada por Lúcio Costa Niemeyer e Pitágoras
Lógica e lírica
Grega e brasileira
Ecumênica
Propondo aos homens de todas as raças
A essência universal das formas justas

Brasília despojada e lunar
como a alma de um poeta muito jovem
Nítida como Babilônia
Esguia como um fuste de palmeira
Sobre a lisa página do planalto
A arquitectura escreveu a sua própria paisagem

O Brasil emergiu do barroco e encontrou o seu número
No centro do reino de Ártemis
- Deusa da natureza inviolada -
No extremo da caminhada dos Candangos
No extremo da nostalgia dos Candangos
Atena ergueu sua cidade de cimento e vidro
Atena ergueu sua cidade ordenada e clara como um pensamento

E há nos arranha-céus uma finura delicada de coqueiro"

http://www.youtube.com/watch?v=PsJpeR2K-is

Neste texto, vivem-se milhares de anos da história comum da humanidade, e nela, tem Lagos a sua parte, como se a evolução do mundo fosse um poema único e uma mesma música contínua.

(1), (15) e (16) Sophia de Melo Breyner Andresen; (2) Gilgamesh, uma epopeia Suméria; (3) cidades Fenícias; (4) filho de Ulisses e de Penélope; (5) Helena de Tróia; (6) Esparta; (7) Menelau; (8) Afrodite voltou a unir Helena e Paris; (9) Constantin Cavafis, traduzido por Jorge de Sena; (10) Troiano que fundador de uma colónia Grega, cujas aventuras foram retratadas no poema épico de Virgílio, a Eneida; (12) filha de Latino, mãe dos filhos de Eneias e fundadores de Roma; (13) Eneida; (14) mito representativo das realizações impossíveis.

Jorge Ferreira 28/02/2010